Conhecer as crianças Regras fundamentais Algumas Sugestões
CAROS PAIS:
A educação dos filhos é uma tarefa muito importante na vida de cada um mas é também uma função específica.
Aprende-se a ser pai ou mãe seguindo os exemplos que estão próximos – o nosso próprio enquanto filhos, o dos amigos, colegas ou familiares.
Por outro lado a “família” mudou. Aumentaram as suas obrigações face a um contexto por si só a exigir uma redobrada atenção. Mesmo o próprio conceito de família não é o mesmo. Hoje não se pode falar em família mas em famílias.
Apesar deste quadro e do pouco tempo que os pais hoje em dia têm para dispensar à sua família, são cada vez mais responsabilizados pelas opções dos seus filhos. Esta responsabilização chega a ser culpabilizante quando o que está em causa são comportamentos desviantes como o consumo de álcool e outras drogas.
Para que os pais desempenhem o seu papel de forma segura e eficaz, prevenindo este tipo de comportamentos, é essencial que, desde cedo, a família crie um ambiente envolvente onde as crianças se sintam seguras e amadas.
A prevenção de comportamentos desviantes começa assim e é cada vez mais entendida como um processo de educação para a saúde para a responsabilidade para a liberdade.
O contributo dos pais começa pela criação de relações próximas e carinhosas com os filhos, ajudando-os a distinguir o bom do mau, impondo limites, transmitindo regras claras de comportamento, respondendo às suas dúvidas com informação correcta, tendo tempo para eles – sabendo conversar mas, mais importante que tudo, sabendo ouvir.
Este Guia de Prevenção pretende fornecer algumas pistas que possam ajudar os pais a encontrar formas de actuação, que lhes permitam começar desde cedo uma verdadeira educação para a saúde e para os valores, uma vez que se entende aqui a dimensão total da saúde-física, psicológica e moral.
O Guia contém, igualmente, um conjunto de sugestões que facilitam o envolvimento de pais e filhos em actividades onde através do jogo – a forma mais eficaz de ensinar as crianças! – se promova a discussão de temas como a tomada de decisões, os sentimentos, as substâncias tóxicas, entre outros, e se contribua para o desenvolvimento harmonioso das crianças.
Esperamos que goste.
Um abraço
CONHECER AS CRIANÇAS
Conhecer as crianças as suas características e hábitos, ajuda a melhorar a qualidade das relações que se estabelecem com elas.
As atitudes e comportamentos aprendidos pelas crianças com idades entre os 3 e os 5 anos, têm uma importância fundamental em todo o processo de desenvolvimento podendo ser determinantes nas decisões e opções que venham a tomar no futuro.
Falar sobre o consumo de drogas e álcool a crianças desta faixa etária não faz muito sentido, mas entendendo-se a prevenção como um processo de educação para a saúde compreende-se a importância a importância de se falar sobre temas como:
- – o corpo e como é importante aprender a gostar dele e a cuidá-lo;
- – a saúde e o que fazer para a preservar;
- – a importância de uma alimentação correcta e equilibrada como fonte de energia e bem estar;
- – as substâncias tóxicas – aprender a identificá-las e a entender porque são perigosas.
É importante ter em conta que esta é a famosa idade dos “porquês” e que a curiosidade natural das crianças deve ser satisfeita com respostas tão simples, concretas e verdadeiras quanto possível.
Nesta fase elas têm pouca noção do futuro e facilmente confundem o real com o imaginário – vêem o mundo como desejam que seja!
Os grandes “discursos” devem ser evitados já que as crianças desta idade têm uma capacidade limitada de atenção. Se a informação fornecida for muito complicada elas naturalmente perderão o interesse.
No fundo trata-se de ser capaz de, desde cedo ajudar as crianças a tomarem conta de si própria, a gostarem de si próprias…
Esta será sem dúvida a melhor forma de lhes incutir valores fundamentais que contribuam para uma recusa do consumo de drogas e de outros comportamentos de risco no futuro.
As crianças entre os 5 e os 9 anos atravessam uma das mais importantes fases de desenvolvimento das suas vidas e da sua personalidade.
Aos cinco anos, as crianças são físicas social e emocionalmente imaturas. Porém aos 9 anos apresentam uma personalidade largamente desenvolvida.
Podemos de forma sucinta identificar algumas características das crianças desta faixa etária:
- – gostam de aprender de novas experiências e oportunidades. Essa aprendizagem é principalmente feita através da vivência das situações da experiência;
- – necessidade de regras para guiar o seu comportamento e de informação correcta para tomarem decisões – os adultos são pessoas muito importantes já que funcionam como modelos e por isso como fontes de aprendizagem;
- – dão muita importância ao corpo e ao seu funcionamento.
Apesar de nesta faixa etária as crianças possuírem conhecimentos limitados sobre as drogas, é um tema de que elas já ouviram falar e é por isso importante que os adultos saibam responder às suas questões com informação correcta e apropriada.
Se não falar com os seus filhos sobre drogas, alguém o fará. O mesmo acontecerá relativamente a outros temas como por exemplo a sexualidade. Este tipo de informação vem por via dos amigos de televisão ou mesmo escutando as conversas a meia voz dos adultos.
Por estes processos as informações que conseguem, na grande maioria das vezes são confusas ou até erradas pelo que é importante que sejam os pais naturalmente a falar destes temas com eles.
O aspecto mais importantes de educação para a saúde nestas idades é o de ajudar as crianças a desenvolverem as competências necessárias a uma correcta tomada de decisões e ao desenvolvimento do sentido de responsabilidade.
REGRAS FUNDAMENTAIS
Para que as crianças e a família se desenvolvam harmoniosamente, há que definir regras que criem limites razoáveis ao comportamento de cada elemento da família.
Começar por apontar algumas regras que consideramos muito importantes na relação pais filhos e que devem estar presentes em todos os momentos da vida familiar.
É importante transmitir valores princípios e modelos positivos.
A conversa sobre todos os temas do dia a dia deve ser uma constante.
Igualmente, deve falar-se abertamente dos valores que a família considera importantes. A transmissão clara destes valores funciona como referência e factor protector das crianças uma vez que ficam a saber o que se espera do seu comportamento. Com linhas orientadoras do comportamento claramente definidas, o próprio processo de tomada de decisão é mais fácil. As crianças tornam-se mais seguras e confiantes porque sabem o que se lhes pede e o que se espera delas.
O ditado popular “faz o que eu digo não faças o que faço” não se deve aplicar no processo educativo das crianças. A imitação é uma das principais formas de aprendizagem e os pais são os modelos mais presentes e pretendidos. Consequentemente, o comportamento dos pais é de grande importância e decisivo. Assegure-se que os seus filhos compreenderam que valores como, por exemplo a honestidade a solidariedade a cooperação, etc, são valores importantes para a vossa família em todos os momentos.
A definição de regras claras de funcionamento em família e em casa é fundamental.
À semelhança da transmissão de valores a definição de regras é fundamental para delimitar até onde se pode ir o que é permitido e o que não é permitido, o que é esperado e o que não é esperado que se faça.
Regras como:
- – Horário de refeições
- – Distribuição de tarefas caseiras
- – Horas para ver televisão
- – Horas de sono
- – Horas de estudo e de lazer
- – Pedir autorização para…
- – Onde podem brincar, em casa de quem
São importantes para o bom funcionamento da família (e para a prevenção de comportamentos de risco) e devem por isso ser conhecidas por todos, 3/ou definidas em conjunto.
Assegure-se que os seus filhos compreendem por que é que existem regras expressamente para eles. Explique por exemplo por que é que os pais podem beber moderadamente bebidas alcoólicas e eles não, por que é que os pais ficam acordados até mais tarde…
Esclareça detalhadamente o porquê das regras e seja específico na sua definição. Quem faz o quê quando como e onde. É importante a supervisão do cumprimento das regras familiares e a aplicação das punições previstas para quem não as cumpre.
As regras devem ser consistentes e as punições razoáveis para que sejam aplicáveis.
É evidente que as regras definidas devem evoluir e alterar-se face a novas situações e à medida que a criança vai crescendo.
Estar a par dos assuntos que interessam aos filhos é um passo importante que os aproxima e facilita o diálogo.
Para que as conversas sejam atractivas para eles mantenha-se informado sobre os assuntos que lhes interessam – banda desenhada, música, desporto, filmes, jogos, etc.
Por outro lado, e relativamente a outro tipo de informação é muito importante que se procure manter actualizado sobre os efeitos e consequências do uso e abuso de drogas e álcool, a sexualidade, doenças como a SIDA, Hepatite, etc, ou outro tipo de informação relacionadas com a saúde física e emocional.
Converse bastante com os seus filhos.
A conversa é um meio de aprendizagem informal e facilitadora do conhecimento.
Incuta na sua família uma cultura de diálogo, de conversa aberta sem tabús mas respeite o espaço do seu filho quando ele não quer conversar. Há crianças mais caladas do que outras. Esteja atento à comunicação não verbal (ao seu olhar, gestos e atitude corporal) e assegure-se que os seus filhos estão felizes.
Fale abertamente sobre tudo, sobre as drogas e álcool também. Seja claro nas suas mensagens de proibição de uso de drogas, tabaco e álcool. Não se esqueça dos modelos positivos nem que deve ser sempre o primeiro a dar o exemplo.
Ouça o seu filho. Quando se diz que deve conversar com ele estamos também a dizer que o deve ouvir. Não o interrompa. Deixe-o acabar os raciocínios e as frases sem emitir desde logo juízos de valor. Ouça-o de facto e olhe-o nos olhos, mostrando que está interessado no que ele lhe está a dizer.
Se os seus filhos se sentirem amados e apreciados serão crianças felizes.
Ajude o seu filho a gostar dele próprio. É fundamental para o saudável desenvolvimento das crianças que elas gostem de si próprias e este facto influência de forma determinante o seu comportamento no presente e no futuro.
Uma criança com uma boa auto estima é uma criança feliz, activa, curiosa e com vontade de aprender.
Mas isto só acontece se as pessoas de quem elas gostam mais, os pais os irmãos os avós as apreciarem e as valorizarem no que elas fazem ou dizem bem.
Expresse e verbalize os seus sentimentos e ajude o seu filho a fazer o mesmo. Com isto não se está a querer dizer que um “raspanete” ou um “açoite” não deva ser dado na hora certa, quando algo corre mal. Mas é importante não esquecer que as coisas boas e bem feitas devem ser alvo de atenção e de apreciação.
ALGUMAS SUGESTÔES:
Algumas sugestões para promover um relacionamento mais equilibrado na família.
hBrinque com os seus filhos.
Brincar com os seus filhos é uma forma de se aproximar deles, de criar contextos de conversa que permitam um mais profundo conhecimento mútuo facilitando uma aprendizagem informal de competências pessoais e sociais como a tomada de decisões, a resolução de problemas, a resistência à frustração, expressão dos sentimentos.
O convívio que resulta do jogo propicia momentos de grande riqueza que reforçam os laços familiares contribuindo para o aumento da confiança.
Fale regularmente com a educadora ou professora dos seus filhos e informe-se sobre os jogos, livros e brincadeiras adequadas ao seu nível etário.
No domínio da afectividade, sociabilização, actividade intelectual e física, o brinquedo assume um significado forte uma vez que nos seus jogos a criança retrata a vida que a rodeia, expressa os seus sentimentos, o desempenho de diversos papéis o cumprimento de regras, a partilha o diálogo a resolução de problemas, a tomada de decisão…
hDefina e transmita aos seus filhos que tipo de comportamento se espera deles.
As crianças necessitam que lhes sejam definidas regras claras de comportamento, nomeadamente, as regras da vida familiar.
Fale com os seus filhos sobre a necessidade da existência de regras. Exemplifique falando-lhe das regras de trânsito, das regras escolares, etc.
hDefina períodos do dia em que pode dar ao seu filho toda a sua atenção.
É mais importante a qualidade do que a quantidade de tempo que tem para os seus filhos. Isto é, mesmo que o tempo que reserve parar estar com eles seja pouco, tem que ser total.
- – Jogue com ele;
- – Leia um livro em conjunto;
- – Dêm um passeio a pé ou um passeio de bicicleta;
- – Façam um bolo ou uma refeição juntos;
- – Escrevam uma carta a um familiar que está distante;
Estas situações especiais, ajudam a construir laços fortes, sentimentos de confiança e afecto entre pais e filhos e facilitam o conhecimento mútuo através da partilha de ideias, sentimentos e experiências.
hÉ importante que desde cedo as crianças aprendam a ter um método e a segui-lo.
Encoraje e ensine os seus filhos a conquistar etapas, aprendendo a seguir instruções, passo a passo.
Aproveite a proposta anterior e executem por exemplo receitas culinárias, construções de lego.
hExplique a importância que tem parar o corpo e para a saúde em geral a alimentação diária.
Proponha-lhes que investiguem os tipos de alimentos que existem e que receitas e menus gostariam de fazer. Converse sobre as sugestões.
hAs crianças dão extrema importância ao seu corpo e sentem muita curiosidade sobre o seu funcionamento. Associe este interesse às discussões sobre a saúde e a importância de a sabermos manter.
Fale com o seu filho sobre os cuidados de higiene indispensáveis, sobre a importância de uma alimentação saudável, sobe a importância de praticar exercício físico, sobre os hábitos saudáveis introduza o tema “Álcool, Tabaco e Drogas”.
hOs detergentes, medicamentos e outros produtos de uso doméstico muitas vezes são a causa de acidentes graves com crianças em casa.
Mantenha estes produtos longe do acesso das crianças.
No entanto não deixe de conversar com elas sobre estes produtos. Leiam em conjunto avisos de “Perigo”, os rótulos de instruções e os modos de aplicação ou uso.
hFale especificamente dos medicamentos.
Transmita-lhes que não devem em circunstância alguma, tomar medicamentos sem serem receitados pelo médico e sem autorização dos pais.
Explique que a ingestão de medicamentos sem necessidade ou em dose excessiva traz graves consequências para a saúde, por vezes irreversíveis.
Fale também na hipótese de encontrarem na rua medicamentos ou rebuçados dos quais não conhecem a origem e que nesse caso, os devem deitar para o lixo.
hÉ hoje claramente assumido que uma das componentes fundamentais da educação para a saúde é ajudar as crianças a desenvolverem uma boa auto-estima, e associada a ela, a capacidade de dizer não às situações e ou comportamento com os quais não se concorda.
Fale com o seu filho sobre a importância de aprender a dizer não. Treine formas de dizer não, descrevendo situações que o façam sentir-se desconfortáveis.
Explique ao seu filho que há várias formas de dizer não. Treine com ele situações simples, do dia a dia da escola e da rua tendo em conta as seguintes maneiras de dizer não:
- – Fazer perguntas acerca do convite proposto.
- – Dizer não, de forma convicta, podendo explicar porquê.
- – Propor alternativas.
- – Abandonar o local, caso nenhuma das hipóteses anteriores tenha sucesso.
hAjude os seus filhos a tomar decisões. Decisões tão simples como “o que vestir hoje”, “que livros levar para a escola”, “que lugar ocupar na mesa”.
Uma decisão é uma escolha que se faz entre duas ou mais coisas e é tomada com base no que se gosta e não se gosta nas experiências passadas, crenças, valores, ideias.
Fale com os seus filhos sobre a importância de se tomarem boas decisões. Treine com eles a tomada de decisões. Ensine-os a percorrerem os seguintes passos quando tomarem uma decisão.
1. Coloque-lhe um problema.
2. Enunciem as várias opções.
3. Façam uma lista das consequências, positivas e negativas, de cada uma.
4. Escolham a melhor opção.
hFaça com os seus filhos uma lista de pessoas de quem eles podem recorrer caso precisem de ajuda: família, amigos de família, vizinhos, professores, polícia, bombeiros.
Ilustre a lista com fotografias e ensaie com eles em que situações podem contactar quem, explicando-lhes a importância de procurar sempre alguém de confiança, guando por algum motivo se sentirem em perigo.
Fale com os seus filhos sobre o medo, como um sentimento normal na vida de qualquer criança ou adulto. Afinal o medo serve para evitar que se corram riscos desnecessários.
Seja claro e inequívoco na sua posição relativamente ao consumo de drogas na família. Não seja ambíguo na definição desta regra.
Mas, não escolha a abordagem pelo medo.
Não exagere nem dramatize demasiado o problema do consumo de drogas, pois pode ter efeitos inversos.
Como deve ter reparado poucas vezes referimos o tema drogas neste guia de prevenção. Existe uma razão para o facto.
Consideramos que o problema essencial não são as drogas, são as pessoas, a maneira como se sentem, vivem, escolhem…
Do Projecto Vida Publicado com permissão